quarta-feira, 2 de março de 2011

Leucemia

Há vários dias que a Carolina no seu regresso a casa me vinha dizendo: “Sabes uma coisa mãe? O JV está a dormir no hospital. Está doente.” E eu lá lhe ia respondendo que às vezes era preciso, que o inverno era difícil e que a chuva assim, o frio assado e frito e cozido por aí. Cada vez que ela andava descalça em casa, lá lhe dizia “Queres ficar doente?” e ela lá respondia e dizia “Pois, o JV está no Hospital” e eu, talvez por isso, talvez pelas várias gripes e viroses que vão passando cá por casa sempre associei o internamento do coleguinha dela às gripes do Inverno. Até que esta semana encontrei duas vezes a avó e a mãe do M, chorosas, à porta da sala e a educadora a dizer que era preciso acreditar, ter fé. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Mas o M estava com um ar tão saudável… Hoje perguntei à educadora ao qual ela me respondeu que o problema era com o JV. Está com Leucemia. Caiu-me a cara ao chão. Fiquei de queixo caído sem saber muito bem como voltar a articular uma palavra. Mas como? De repente? Quando? Porquê? Tem a certeza? E pensar que ainda há uns dias, no fim de Janeiro, precisamente na festa de aniversário do M estive a conversar com a mãe do JV. Estava tranquila, tudo ok, nada fazia prever. Ao que parece ele estava a perder peso, não tinha grande apetite e a mãe levou-o ao hospital. Está no IPO e já começou a quimioterapia na sexta-feira passada. Hoje, passei o dia todo a pensar nisto. A palavra Leucemia parece um reclame luminoso a piscar dentro da minha cabeça. Só a palavra, o nome da doença, causa-me arrepios. Escrevi uma carta à educadora. É preciso agir, é preciso movimentarmo-nos. Fazer alguma coisa. Se não for uma campanha de dadores de medula óssea (que era bonito de ver e com uma comunidade tão grande que é a escola com certeza iríamos abrir esperanças para muita gente), pelos menos a junção de algum dinheiro para a compra de um presente para mandar ao JV, com uma fotografia dos amigos. Uma coisa sem dramas, mas com graça, para ele rir e fazer rir a mãe também. Não consigo imaginar a dor da mãe dele. Não faço ideia o que é estar naquela situação. Deve ser horrível e um carinho, por mais simbólico que seja vai fazer-lhe bem com certeza. À tarde encontrei a representante dos pais da sala e contei-lhe da minha proposta. Aceitou de imediato e amanhã entrego-a à Educadora. Não quero salvar o mundo (se pudesse salvava), quero apenas ajudar quem precisa hoje. Amanhã posso ser eu a precisar. E no fundo, o que proponho não é fazer nada, mas apenas mobilizar os pais e ficarmos de bem connosco mesmo. Quem consegue ficar indiferente?

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