segunda-feira, 7 de julho de 2008

“Água” - uma história arrepiante da condição feminina na Índia



A praia é por norma um dos locais onde se encontram mais pessoas entregues à leitura. Ou porque estão mais descontraídos, ou porque é a única altura do ano em que nada fazem durante o dia, senão estar de papo para o ar, ou apenas porque sim. Não sei. A verdade é que são muitos os que transportam livros para o areal e eu não sou excepção. Deste último fim-de-semana trago-vos a belíssima história de “Água”, um romance notável de Bapsi Sidhwa. Tocou-se profundamente. Assim que comecei a ler não consegui despegar-me mais. Acho que a palavra certa é Bonito. Este é sem dúvida um livro bonito. O livro pretende dar a conhecer a tradição milenar, e a meu ver completamente desumana, de interditar à vida normal as mulheres que ficam viúvas na Índia. Em particular, e para vermos como estas tradições são fundamentalistas, esta história apresenta-nos uma menina de oito anos que enviúva. Sim oito anos. Ela casou com um homem de mais de 40 anos, mas sem precisar de ir viver com ele, isso só aconteceria quando ela tivesse idade para gerar filhos. Mas acontece é que o tal noivo adoece pouco depois do casamento e morre. Nem por isso ela é poupada. Se ela tem as pulseiras e todos os símbolos de mulher casada, pois que sofre as mesmas consequências, como se tivesse 70 anos. Fica privada de roupa colorida e costurada, tendo que tapar-se com panos, rapam-lhe o cabelo, não pode comer doces nem fazer nada que lhe dê prazer. Nem tão pouco brincar, como seria o normal naquela idade. É encarcerada numa casa/abrigo de viúvas, com uma mulher líder que obriga as outras a tudo e quando digo tudo é TUDO. Será que esta menina viúva vai conseguir acatar estas regras? É uma história de coragem. É uma história de luta. Muito bom. Recomendo-vos vivamente. A edição é da Verso de Kapa.

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